segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vereadora Juliana Cardoso prevê confronto com Telhada na Câmara de SP

Juliana Cardoso: “O fato de o vereador Telhada vir fardado à posse é estar numa posição que não é a da Casa”. Fotos: Telhada (Facebook) e Juliana (arquivo pessoal)
por Conceição Lemes
Em 5 de fevereiro, começa a nova legislatura da Câmara Municipal de São Paulo. E, desde já, há dois fatos inusitados.
Primeiro: três dos 55 vereadores eleitos são egressos da Polícia Militar: o coronel Álvaro Batista Camilo (PSD), ex-comandante da PM, Conte Lopes (PTB), capitão aposentado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), e o coronel Paulo Adriano Telhada (PSDB), ex-comandante da Rota.
É a chamada “bancada da bala”, que quer leis mais duras, redução da maioridade penal, acabar com baile funk e valorização da polícia.
Segundo: Telhada já comunicou ao vereador Floriano Pesaro, líder do PSDB, o desejo de integrar de integrar a Comissão de Direitos Humanos e Segurança Urbana da Câmara. Quinto vereador mais votado eleições de 2012, ele compareceu fardado à cerimônia de diplomação no dia 1 de janeiro.
Durante a campanha eleitoral, o ex-comandante da Rota usou a sua página no Facebook para fazer apologia à violência policial na periferia da capital paulista.
Em reação à reportagem Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook, de André Caramante, Telhada incitou seus seguidores na rede social contra o repórter. No início de setembro, o tom subiu: as ameaças de morte ultrapassaram o território da internet e foram estendidas também à sua família. O jornalista teve de sair do país.
“O fato de o vereador Telhada vir fardado à posse é estar numa posição que não é a da Casa”, diz a vereadora Juliana Cardoso (PT). “Aqui, a nossa relação é com o parlamento, com a vereança. Trabalhamos pela legalidade, para ajudar a construir políticas de qualidade para a cidade e não como uma instituição de segurança. Se ele tenciona representar a corporação a que pertenceu, poderia ter continuado como coronel da PM.”
Descendente de indígenas, nascida em Sapopemba, bairro da Zona Leste da capital, militante do movimento popular e educadora social, Juliana integrou na legislatura passada justamente a Comissão de Direitos Humanos, onde continuará atuando: “Pelo que já li e ouvi do vereador Telhada, teremos problemas, conflitos político-ideológicos com ele na Comissão de Direitos Humanos”.
Nos últimos tempos, os temas que tomaram conta da pauta da Comissão foram principalmente as denúncias de violência policial – justamente um dos grandes atores da violação dos direitos humanos no Brasil — e a Comissão da Verdade.
“As violações de direitos humanos que aparecem aqui são muito ligadas a policiais, e o vereador Telhada tem uma visão totalmente equivocada da questão”, reforça Juliana. “Assim, se ele vier com a visão de segurança urbana, para tratar a violação dos direitos humanos, vai ter confronto.”
Na avaliação da vereadora, não dá certo tratar de direitos humanos e segurança urbana numa mesma comissão. São focos antagônicos.
O ideal é que esses temas fossem tratados em comissões distintas. Tanto que vai solicitar isso à presidência da Câmara no início da legislatura, em fevereiro.
Viomundo.com.br